terça-feira, 21 de abril de 2009

A condenação do Pirate Bay condena a nós todos

O que acontece quando uma grande e representativa parte da sociedade comete um determinado crime ? Se todos bebem a lei seca é realmente válida ? Para que diabos criamos as leis ?

Hoje, pelo menos 2,5 milhões de brasileiros trocam pela internet arquivos de música e vídeo, um número expressivo considerando que apenas 11 milhões de lares possuem acesso a rede . E estas pessoas não são outsiders que vivem da sua atividade ilegal. São na sua maioria pessoas de bem que vivem em uma sociedade com leis inadequadas para os dias atuais.

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Por outro lado, ninguém no seu juízo perfeito pode pregar a desobediência civil e, além disto, a Indústria Cultural tem de ser remunerada pelos seus investimentos. Mas cabem sempre algumas dúvidas, algumas apenas retóricas, claro.

  1. Assino um pacote de TV a cabo com o canal AXN e portanto verei, legalmente, o episódio de LOST que passará na ABC esta semana daqui a alguns meses. Na verdade, no dia seguinte posso assistir no próprio site da ABC. Porque diabos baixar o episódio é ilegal ?
  2. No caso específico da indústria fonográfica, porque devemos continuar com o velho modelo de mantermos realmente um “indústria”, se a tecnologia já permite aos artistas dispensar, quando vantajoso, as gravadores e vender seu produto diretamente na rede ?
  3. Prender consumidores (afinal quem baixa também consome) vai resolver algum problema ou apenas criar mais atrito ?
  4. Não sou design. Nunca serei. Nunca pagaria R$ 2.999,00 numa licença do CS4. Aprendi a usar o programa a muitos anos e assim como eu várias pessoas aprenderam com cópias piratas. Será que não foi essa massa de pessoas que tornou o programa “padrão de mercado” ? Na verdade, será que não foi isso que levou a Microsoft a vencer a IBM ? Pessoas utilizando seu software ?
  5. Se a pirataria é um modelo de negócios, baseado em qualidade, preço e disponibilidade, porque a indústria não fornece algo com mais qualidade e mais facilmente disponível. Preço não é a única variável.
  6. Não sei você, mas eu acho um saco procurar um torrent, esperar baixar, esperar mais um pouco, baixar legenda, botar tudo num pendrive para assistir na TV. Queria muito assistir o programa que eu quiser na hora que eu quiser apenas utilizando o controle remoto. Pagaria por isso. Seria esse um modelo viável ?
  7. Será que “eles” realmente acreditam que todo o conteúdo baixado ilegalmente seria comprado legalmente caso a pirataria não existisse ? Quantos de nós não compramos um DVD original SOMENTE depois ter baixado e aprovado o conteúdo ?
  8. Se houvessem pagamentos de royalts sobre invenções como a “máquina a vapor” ou ainda o “motor de combustão interna” será que teríamos passado da primeira revolução industrial ?
  9. Por outro lado, se tudo fosse realmente “livre” como querem alguns defensores mais animados, George Lucas teria produzido Star Wars ?
  10. Baixar tudo e comprar o que gosta é uma prática socialmente aceita, mas como fazer uma legislação e um modelo de negócios para a indústria da cultura que ao mesmo tempo não torne esses consumidores criminosos e mantenha o fluxo financeiro para quem produz ?